quinta-feira, 25 de julho de 2013

Emocione-se! Participe! 1º Fórum Nacional de Pessoas com TDAH

Queridos leitores!

Fiquei emocionada com um vídeo que recebi por e-mail, da ABDA (Associação Brasileira do Déficit de Atenção). 

O e-mail era sobre o 1º Fórum Nacional de Pessoas com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), pedindo uma contribuição para que esse Fórum seja realizado e destacando a importância para que isso aconteça.

Sempre fui receosa em falar sobre TDAH, pois chegam crianças na Clínica Psicopedagógica sendo diagnosticadas com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade por neurologistas - inclusive sendo medicadas. No entanto, muitas delas foram diagnosticadas erroneamente, pois as dificuldades das crianças eram de outra ordem (social, familiar, psicológica, mas não neurológica) e acabaram superando suas dificuldades escolares apenas com o atendimento psicopedagógico e, em alguns casos, associados a atendimentos com outros profissionais também, como fonoaudiólogo ou psicólogo.
Houve uma grande "medicalização" de crianças nas últimas décadas com a difusão do Transtorno em todos os âmbitos (da educação, da saúde etc) e, muitas crianças foram, e ainda são, medicadas sem necessidade real. É comum ouvirmos com frequência: -"É desatento? Não presta atenção? Não fica parado quieto um minuto? Não quer fazer nada? Tem TDAH e tem que tomar ritalina!!!". Isso é um equívoco!!!
O que necessitamos, de fato, é de conhecimento, tanto professores (e a escola e os educadores de uma forma geral), como médicos, pais/família e a sociedade como um todo em reconhecer o Transtorno de forma correta e tratá-lo da forma mais adequada possível, para que não haja danos psicológicos e no desenvolvimento desses sujeitos de aprendizagem.
Segundo a ABDA, o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade.
O universo de crianças e adolescentes com Déficit de Atenção, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), corresponde de 4 a 6% da população mundial. Estes indicadores apontam para o fato de que esta parcela da população necessita de políticas públicas, elementos que consideramos essenciais para o exercício de uma democracia plena que contemple os direitos de todos.
Convido a todos a se emocionarem também. Assistam! Participem! Contribuam! Todas essas mudanças dependem da nossa participação.

Mais informações, acessem:
http://www.tdah.org.br/

Um beijo carinhoso (e emocionado)... 

Flávia! ;)



segunda-feira, 27 de maio de 2013

Na Finlândia, a profissão de professor é valorizada

Para quem não sabe, atuo como professora da Prefeitura Municipal de São Paulo. 
Os docentes entraram em greve nas últimas semanas, lutando por melhorias nas condições de trabalho (menor quantidade de alunos em sala de aula, apoio ao ensino com crianças especiais etc.) e um reajuste digno no salário (o atual prefeito ofereceu 3,68% por ano, de reajuste). Depois de muitas negociações, poucas conquistas conseguimos e vencidos pelo cansaço, os professores voltaram às suas escolas nesta segunda-feira.
Li esta reportagem sobre a educação da Finlândia hoje e gostaria de compartilhar com vocês. Já tinha conhecimento que a Finlândia tem um dos melhores índices educacionais do mundo, mas a novidade pra mim é que, para eles, a qualidade está centrada no professor. Nossa utopia!
Que um dia nosso governantes tenham esta consciência e que, independente de partido político ou disputa partidária, a educação deve estar acima de todas as coisas, assim como o exemplo da Finlândia.
Quem sabe um dia, sejamos todos nós os vencedores pelo cansaço?!
Que a esperança e a luta nunca terminem...

                                                                ***

No país que está entre os melhores em rankings de educação, docentes dão aula em só uma escola e têm liberdade de avaliar 

 

Na análise de quaisquer que sejam os rankings de educação, é praticamente certo que a Finlândia - país nórdico de cerca de 5 milhões de habitantes (mesma quantidade de alunos da rede estadual de São Paulo) - esteja presente nas primeiras posições. Por ter um dos melhores sistemas de ensino do mundo, representantes do Ministério da Educação do país foram convidados a vir a São Paulo para detalhar o modelo que pode servir de inspiração ao Brasil. O evento foi promovido pelo Colégio Rio Branco e pela Embaixada da Finlândia.
Em entrevista ao Estado, Jaana Palojärvi, diretora do Ministério da Educação e Cultura da Finlândia, disse que a principal "receita do sucesso" tem a ver com o trabalho do professor, cuja profissão é valorizada e muitos jovens querem segui-la.
A valorização da carreira dentro da própria sociedade foi observado pela educadora Esther Carvalho, diretora-geral do Colégio Rio Branco, que visitou o país em duas ocasiões. "Mesmo não sendo um dos mais altos salários pagos em comparação com outros países europeus, lá o professor tem um prestígio social. Isso é evidente", fala Esther.
Ao observar o ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2009 - realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) -, o país ficou na 3ª melhor posição, entre mais de 65 países. O Brasil acumulou a 53º posição.
O que mais chama atenção no seu modelo educacional, é a descentralização administrativa das escolas - professor tem poder para remodelar o currículo de seu grupo de alunos -, há pouco dever de casa e as crianças não são expostas a quantidades excessivas de conteúdo. Uma realidade bastante distinta de países asiáticos como Coreia, líder do Pisa. O sistema coreano é reconhecido por exigir bastante dos alunos na escola e fora dela.
Na Finlândia, manter um ambiente propício à aprendizagem, tendo o professor como figura central desse processo é o principal foco do Estado, que financia completamente o ensino básico.

O Estado de S. Paulo - É fácil ser professor na Finlândia?
Jaana Palojärvi - É das profissões mais populares no país. Por isso, nos preocupamos em selecionar bem os profissionais. Apenas 10% dos candidatos que pretendem entrar na universidade para serem professores conseguem fazer o curso. E não se pode ser professor na Finlândia sem ter mestrado.

 No Brasil há déficit de professores de Química, Física e Matemática. Faltam esses profissionais na Finlândia?
Nossa situação é diferente. É fácil para nós termos professores, pela grande procura. Só em Matemática é um pouco mais difícil.

Professor em seu país dá aula em mais de uma escola?
Sabemos que os professores brasileiros fazem isso, mas não na Finlândia. Lá, o docente dá aula em apenas uma escola. Geralmente fica com o mesmo grupo de alunos, acompanhando-os por cerca de 6 anos.

Qual o salário médio dos docentes?
Eles não são nem mal pagos nem tão bem pagos. O salarial inicial de professor de ensino fundamental é de cerca de € 3.000 (R$ 7.860) por mês.

Qual é o tamanho da carga horária nas escolas finlandesas?
Temos uma das cargas horárias mais curtas do mundo. Nos anos iniciais do ensino fundamental, por exemplo, os estudantes ficam entre 3 e 4 horas na escola apenas.

Então, eles levam muito dever escolar para casa?
Nós não somos muito defensores da tarefa de casa. A quantidade que passamos para os nossos alunos é baixa. É um sistema diferente de países asiáticos, que passam muita tarefa.

Como são feitas as avaliações?
Na educação básica não temos uma avaliação nacional. Em cada sala, o professor é quem decide como avaliar seus alunos. Não acreditamos muito em testes e controle, focamos mais no aprendizado. Temos um sistema bem descentralizado.

No Brasil, o currículo do ensino médio está sendo repensado. A ideia é enxugar a quantidade de disciplinas que podem chegar a 13. Como é o currículo na Finlândia?
Atualmente estamos reformulando o nosso currículo para distribuir melhor os horários de aulas na educação básica. Estamos colocando especial atenção à disciplina de Artes. Queremos impulsionar cada vez mais a criatividade das nossas crianças. 

Quem define o currículo?
À nível nacional, desenhamos apenas o esqueleto. É no nível da escola que são definidos as especificidades. Algumas escolas por exemplo, tem um perfi que dá mais destaque a aulas de música, por exemplo. As escolas podem incluir cursos extras à seu critério.  

E como a tecnologia é utilizada no aprendizado?
Existem escolas que trabalham bastante com a tecnologia aplicada à educação e outras que nem tanto. Mas no geral, as escolas finlandensas estão mais interessadas no processo não no meio. Não importa se os professores utilizam papel ou aparelhos tecnológicos. O mais importante é a qualidade do aprendizado.   

Com que idade os alunos finlandeses aprendem a ler?
Nós não esperamos que aprendam a ler antes dos 7 ou 8 anos. As crianças precisam ser crianças.

No Brasil, há críticas quanto a descontinuidade de políticas públicas. Esse problema é enfrentado pela Finlândia?
No início da década de 70 conluimos um intenso debate sobre mudanças no nosso sistema educacional. FOi uma revolução. Mas depois disso, não importa se o governo é de direita ou de esquerda, não foram modificadas até hoje as bases dessa mudança.

No País, existem professores queixam de excesso de alunos por sala. Algumas turmas chegam a ter mais de 40 alunos. Qual é a situação da Finlândia?
Temos menos de 20 estudantes por sala nos anos iniciais do ensino fundamental. Nos outros níveis da educação básica o número não ultrapassa 25 estudante. Nós nos preocupamos bastante com classes com muitos alunos. Sempre incentivamos escolas localizadas em grandes cidades com grande quantidade de alunos a reduzirem o número de estudantes por sala.

Qual a grande mensagem que a Finlândia pode oferecer ao Brasil?
A qualidade e a equidade são os pontos mais importantes. Independentemente da cidade e do bairro em que estejam localizadas as escolas, elas devem oferecer uma boa educação para todos os alunos. Isso é fundamental.


Fonte:  http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,na-finlandia-a-profissao-de-professor-e-valorizada-,1035943,0.htm

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Jogo da Unesp melhora notas baixas de alunos do ensino médio em 51%

 Jogo da Unesp ensina disciplinas de exatas a alunos de escola pública de Araraquara (Foto: Adriano Ferreira / EPTV)

 

Eu adoro as postagens da Isadora, do Diário de Classe do Facebook. 
Dentre uma leitura e outra, encontrei um link, no qual ela recomendava uma matéria para leitura. Interessantíssimo! E é da Unesp, sou supeita! rsrs
Espero que gostem...

 

400 estudantes foram acompanhados durante dois anos por pesquisadores. Conteúdo interativo tornou o aprendizado mais interessante para os jovens.

 

Um projeto da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araraquara (SP) acompanhou durante dois anos 400 estudantes do ensino médio da Escola Estadual Bento de Abreu (Eeba) e conseguiu melhorar em 51% as notas baixas dos alunos. O conteúdo interativo tornou o aprendizado mais interessante e mesmo aqueles que já tinham boas notas  aumentaram o desempenho em 13%.
A tecnologia veio para tirar o medo que algumas matérias causam nos alunos. Com a ajuda de notebook, os alunos aprendem matemática e física. Os exercícios foram desenvolvidos pelos pesquisadores.
O professor de didática da Unesp Sílvio Fiscarelli disse que uma pesquisa mostrou que houve uma melhora de 30% no rendimento de todos os estudantes com a nova maneira de aprender. “Isso em média, porque nos alunos que já tiram nota maior que cinco, esse desempenho foi de apenas 13%, enquanto nos alunos que têm nota abaixo de cinco o desempenho chegou a 51%”, explicou.

Para ele, a maneira diferente de aprender complicados conceitos facilita o aprendizado. Um jogo que envolve conceitos matemáticos no notebook, por exemplo, tem o objetivo de trocar o máximo de vezes combinações de roupas sem repetir as mesmas peças em uma boneca, com isso, os alunos aprendem a matéria de análise combinatória.
“O estudante vai arranjar aqueles elementos de uma forma característica dentro do conceito matemático daquilo, jogando e brincando”, afirmou a professora de matemática Maria Helena Bizelli.
Na matéria de física, descobrir a velocidade dos elétrons parece até brincadeira. Uma história em quadrinhos explica sobre transferência de calor e ensina a calcular a temperatura correta do café e do leite por meio de um desafio. Se o número for digitado errado, o aluno pode queimar a boca da personagem do jogo.
“A questão da interatividade é importante, os exercícios no notebook justamente aumentam essa interatividade do aluno e dele próprio buscar o conhecimento O aluno constrói seu conhecimento, em vez de só ouvir a informação e assimilar”, ressaltou Silvio Fiscarelli.
Para Alcenir dos Santos, professora da escola estadual, trabalhar com a tecnologia também é um desafio para os professores que precisam se reinventar dentro de sala de aula. “Vamos ter que aprender juntos, eles nos ensinando a tecnologia e a gente os orientando a aprender o conteúdo”, explicou.

Novas possibilidades
Muitos estudantes descobriram um novo mundo de possibilidades. “Tudo o que fosse exatas eu tentava fugir o máximo que eu pudesse, agora já dá”, disse Liniker Barros, aluno do projeto.
A estudante Letícia Polezzi, que não gosta de exatas, passou a se interessar mais por física. “Eu pensava que era um bicho de sete cabeças, mas comecei a pegar gosto e com o projeto do ano passado, aprofundei e gostei“, contou.
Ir à escola e ficar na frente do computador não será problema para esta geração conectada. “A tecnologia é muito importante, porque assim os alunos vão dar mais incentivo à matéria, vão querer estudar mais. Se o aluno fica o dia inteiro em casa no computador, na escola ele também pode ficar um pouquinho sem problemas” afirmou a aluna, Thaís Machado.
História em quadrinhos explica sobre transferência de calor em jogo da Unesp Araraquara (Foto: Adriano Ferreira / EPTV) 

 História em quadrinhos explica sobre transferência de calor em jogo da Unesp







 fonte: http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2013/04/projeto-da-unesp-melhora-51-notas-baixas-de-alunos-do-ensino-medio.html

terça-feira, 9 de abril de 2013

Por dentro do cérebro


Responsável por curso de formação em Neuroeducação, Alfred Sholl-Franco defende interação entre neurociência, ciências cognitivas e educação como forma de melhorar o aprendizado.


Duas vezes por ano, turmas de educadores se reúnem na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para aprender conceitos oriundos da neurociência e das ciências cognitivas. O objetivo do curso, segundo o coordenador Alfred Sholl-Franco, é discutir como esses conhecimentos multidisciplinares podem ajudar a compreender melhor os processos de ensino-aprendizagem que acontecem na sala de aula. Doutor em Ciências Biológicas, Sholl-Franco, 41 anos, é também coordenador do Núcleo de Divulgação Científica e Ensino de Neurociência,Ciências e Cognição (CeC-NuDCEN) da UFRJ, responsável pela promoção do curso de formação continuada em Neuroeducação.
A Carta Fundamental, o especialista conta o que é neuroeducação, alerta para as deturpações no campo e explica como os conhecimentos em neurociência se relacionam com as teorias educacionais tradicionais.


Carta Fundamental: O que é neuroeducação? Alfred Sholl-Franco: A neuroeducação é uma área de estudo que trabalha com a interação entre a ciência cognitiva, a neurociência e a educação. Desde 2004, a sociedade internacional, que é chamada de International Mind, Brain, and Education Society (Imbes), tenta entender melhor como essas grandes áreas podem contribuir para melhorar a educação. O que muitos acreditam ser apenas a neurociência ajudando a educação é na verdade um trabalho conjunto, multidisciplinar, que visa promover um melhor desenvolvimento dos recursos educacionais, tanto no que diz respeito aos processos do desenvolvimento normal quanto daqueles relacionados às falhas do desenvolvimento, problemas ou patologias. Aí se incluem também quadros patológicos que afetam o ensino-aprendizagem e a própria relação aluno-ambiente, como autismo, distúrbios de aprendizagem. O interesse maior da neuroeducação é proporcionar um melhor entendimento dos processos de ensino e de aprendizagem. Conhecendo esses processos, é possível promover sua melhora e facilitar não
só o processo de aprendizagem para os alunos, mas também o processo de ensino para os docentes. É uma coisa que não deve ficar restrita à comunidade acadêmica.

CF: Então se trata de uma área nova do conhecimento? ASF: É uma área nova, por isso também sujeita a deturpações e oportunismos. Como apresentar
uma cura para tudo ou colocar muitos comportamentos como doenças. A neuroeducação é um campo emergente e está sujeito a apropriações, esse é o grande perigo e o grande destaque que eu gostaria de fazer. Muitos estão usando esse termo neuroeducação para se aproveitar e divulgar métodos extraordinários, facilidades para aprendizado e assim por diante, o que na maior parte das vezes não é verdade.

CF: Como esse conhecimento pode ajudar um professor a trabalhar em sala de aula? ASF: O principal ganho na convergência dos conhecimentos oriundos da área de ciências cognitivas, da neurociência e da própria educação tem sido entender melhor os processos de aprendizagem, da memória,da aquisição da linguagem e até dos ciclos biológicos, como o período de sono. O conhecimento desses fenômenos facilita uma melhor exploração do processo de ensino-aprendizagem. A aquisição de conhecimentos pelos estudantes será melhor nse quem estiver transmitindo esses conhecimentos entender como o sistema está preparado para absorvê-los. Conhecer esses processos cognitivos e físicos de desenvolvimento de crianças, jovens e adultos favorece tanto o processo de transmissão do conhecimento quanto o entendimento de como aquela mente que está recebendo as informações irá trabalhá-las.

CF: Então o conhecimento desses processos favorece o professor? ASF: Não só o professor, mas também o coordenador pedagógico, o diretor, todos que estão relacionados com o processo de ensinoaprendizagem.O ato de aprender está relacionado às modificações no sistema nervoso decorrentes de sua exposição a novas informações e ao modo como trabalhamos o conhecimento que já possuímos, o que fazemos não apenas no ambiente escolar.

CF: De que forma os conhecimentos da neurociência e das ciências cognitivas se relacionam com as teorias da educação? ASF: Antigamente, todos aqueles cuja graduação estava envolvida com docência aprendiam os teóricos da educação, como Piaget e vários outros. Pelo trabalho conjunto de educadores e neurocientistas e dessa visão multidisciplinar que caracteriza a neuroeducação, é possível discutir as teorias sob um olhar mais amplo. Um exemplo da aplicação é a escola de desenvolvimento piagetiana que relaciona determinados comportamentos a idades estabelecidas. Hoje em dia temos trabalhos da área de educação que confirmam dados neurobiológicos, que precisavam de um paralelo funcional, enquanto muitos dados neurobiológicos explicam fenômenos observados inicialmente em um contexto apenas educacional.

CF: Quais avanços ou descobertas da neurociência estão ligados ao processo de ensino-aprendizagem? ASF: Atualmente existem vários estudos que ampliam o conhecimento de dificuldades de aprendizagem como discalculia, a dislexia e outros processos englobados dentro dos distúrbios de aprendizagem, como também o autismo e o TDAH. No caso do TDAH em particular, eu tenho um aluno que faz um estudo entre exergames, jogos como o Wii e o Kinect, que trabalham com o movimento corporal. Existem estudos que mostram que o trabalho físico coordenado com o trabalho mental leva a uma melhora cognitiva, uma melhora de aprendizado. Na verdade, no caso desse estudo em particular, como a criança tem de fazer uma relação entre o trabalho de corpo e tarefas exigidas, dados preliminares mostram que há uma melhora no tempo de reação, que bé o tempo que a pessoa leva para apresentar uma resposta a um estímulo sensorial. A criança com TDAH tende a se dispersar mais e a não se concentrar no objeto que ela está observando. A prática regular desses
jogos mostrou uma melhora no desempenho do tempo de reação e da atenção. Essa é uma maneira de você aplicar esse conhecimento como um coadjuvante na melhora atencional dessas crianças.

CF: De que forma os professores de Educação Infantil poderiam aproveitar melhor os conhecimentos da neurociência em sala de aula? Quais conhecimentos são importantes? ASF: Principalmente os estágios de desenvolvimento motor e cognitivo. Por exemplo, não adianta eu querer algo acima do que o sistema pode comportar. Ou seja, não adianta entulhar o aluno de informações. Ao mesmo tempo, é preciso saber que todos nós somos ávidos por informação. Costumo dizer que uma criança tem 12 olhos: dois olhos mais dez dedos. Só o olhar não basta, tem de sentir, tem de construir novos circuitos cerebrais que representem essas. Então não basta para uma criança só ver um objeto. Os sensoriais – tocar, cheirar – são muito importantes. Se eu sei dessa necessidade do sistema por informações e eu preciso cumprir o currículo, como explorar melhor? Por exemplo, se vou falar de cores na Educação Infantil, posso levar frutos de cores diferentes, que servirão para as crianças apalparem, sentirem seu cheiro. Se o professor de Educação Infantil conhece melhor a mente e o desenvolvimento dos processos cognitivos das crianças, ele poderá aproveitar melhor as ferramentas com as quais poderá passar essas informações.

CF: A formação atual recebida pelos professores contempla de alguma forma os últimos conhecimentos sobre a neurociência? ASF: Não. Na maior parte das vezes, o que temos de maneira muito fraca são disciplinas de fisiologia ou de anatomia e fisiologia, que são ministradas de forma fragmentada, o que não permite a aplicação desses conhecimentos no processo de ensino-aprendizagem. Mas é uma tendência agora. Estamos iniciando na UFRJ, na USP, na UFRG e na UFRN. Pontualmente, temos grupos fazendo esse tipo de trabalho, partindo da formação de novos profissionais que sairão para o mercado de trabalho. Mas não basta introduziresse tipo de conhecimento para as pessoas que vão entrar no mercado de trabalho. Por isso criamos o curso de formação continuada em neuroeducação, que não existe em outro lugar do Brasil. Nosso objetivo é pegar profissionais que já estão em sala de aula e proporcionar a eles uma forma de se prepararem melhor para o desafio que é o processo de ensino-aprendizagem.

CF: As descobertas da neurociência têm sido levadas em conta na formulação de políticas públicas de educação? ASF: Nós temos um problema geral, que foi colocado para o público pela mídia e pelo governo, que é a questão da pontuação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Isso expôs um problema que já existe há muito tempo. Se analisar as notas do Ideb do Brasil inteiro, por região e pegar o Rio de Janeiro em particular, você perceberá que o Rio tinha um nível muito baixo. De cinco anos para cá, o governo tem valorizado mais e se aplicado mais no processo de levar conhecimentos e informações da academia para as escolas. É uma preocupação muito forte. No Rio temos tido um investimento significativo.

CF: Como funciona o curso de neuroeducação que o senhor ministra para educadores? ASF: O curso de formação continuada ocorre duas vezes por ano, sempre em janeiro e julho. Em Belford Roxo (RJ) temos também minicursos de formação continuada. Começamos o curso explicando o que é  neuroeducação, como a neurociência e as ciências cognitivas podem contribuir com a educação. Em seguida, estudamos o desenvolvimento do sistema nervoso e assim eles descobrem, por exemplo, as etapas do desenvolvimento motor, sensorial, cognitivo. Depois vamos para os estudos dos sensoriais, que são as portas de entrada da informação em nosso sistema, e depois para os sistemas motores. Nos sistemas motores, falamos do desenvolvimento motor da infância até a velhice e abordamos também as respostas autônomas do organismo. Em seguida, vamos para os processos de aprendizagem e de formação de memória. Todas as aulas são compostas de teoria e prática, isso torna o curso dinâmico. No quarto dia, abordamos os processos de linguagem e os distúrbios de aprendizagem. No último dia, fechamos com os ciclos biológicos, a importância do sono, o processo de fixação de memória durante o sono etc. O curso se encerra com o desenvolvimento de novas atividades práticas pelo participante. Uma coisa interessante é que 70% do nosso público é formado por profissionais da escola pública. A grande demanda tem vindo de lá.


Fonte: http://www.cartacapital.com.br/carta-fundamental/por-dentro-do-cerebro/

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Ômega 3 contribui para o desenvolvimento do sistema nervoso

Peixes devem ser consumidos pelo menos uma vez na semana, recomenda nutricionista da Unesp
 
Angela Valéria Pellizzon Barbin, nutricionista da Unesp em Botucatu, afirma que o consumo de ômega 3 contribui para o desenvolvimento do sistema nervoso de crianças com até 2 anos.

Ouçam, copiando e colando na sua barra de navegação o link abaixo!
Explicativo, objetivo e extremamente interessante!
=)


http://podcast.unesp.br/radiorelease-01042013-peixes-devem-ser-consumidos-pelo-menos-uma-vez-na-semana-recomenda-nutricionista-da-unesp

terça-feira, 12 de março de 2013

Câmara aprova Medida Provisória de incentivo à alfabetização

A Câmara aprovou a Medida Provisória 586, do chamado Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, com incentivos para a alfabetização das crianças nas escolas públicas até os oito anos de idade. Entre os incentivos previstos no projeto estão a oferta de cursos de capacitação para professores, o pagamento de bolsas de valor ainda a ser definido para os docentes que participarem de atividades didáticas e a distribuição de prêmios em dinheiro para escolas e professores que fizerem avanços na área. A medida provisória prevê a realização de um exame nacional ao final da terceira série do ensino fundamental para avaliar o desempenho dos alunos.

Durante a votação, os deputados aprovaram uma emenda fixando dez anos de prazo para o alcance da meta de alfabetização na idade certa. A data limite é 31 de dezembro de 2022. O texto original não previa nenhum prazo. A medida provisória segue agora para votação no Senado. Partidos de oposição tentaram alterar a idade de alfabetização, mas o governo conseguiu maioria para derrotar a proposta. A emenda do deputado Izalci (PSDB-DF) previa que a partir de 2017 a alfabetização seria até os seis anos de idade, ao final do primeiro ano do ensino fundamental.

Pelo texto da proposta, o governo federal destinará recursos aos Estados e aos municípios por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), para investir na formação continuada de professores alfabetizadores dos três primeiros anos do ensino fundamental. Para isso, o governo deve liberar em torno de R$ 2,5 bilhões até 2014. Neste ano, a proposta é aplicar R$ 1,1 bilhão no programa.






Fonte:http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,camara-aprova-mp-de-incentivo-a-alfabetizacao,1001910,0.htm

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Princesas da Disney moldam feminilidade em crianças

“As princesas da Disney carregam consigo um conteúdo que acaba funcionando como uma restrição a ideia do que é ser humano, enquanto mulher. É necessário garantir que a formação das crianças tenha também outros tipos de referenciais. A diversidade existe, e as crianças devem saber que não há apenas uma maneira de serem felizes, bonitas e aceitas.”


No Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, a antropóloga Michele Escoura estudou de que maneira as imagens de princesas de contos de fadas servem como um referencial de gênero e exemplo de feminilidade. A pesquisa foi realizada com aproximadamente duzentas crianças de cinco anos de três escolas, públicas e particulares,  do interior de São Paulo — duas em Jundiaí e uma em Marília. Por intermédio de observações participantes, Michele avaliou a influência exercida nas crianças pela marca registrada “Disney Princesas”. As imagens das personagens das produções cinematográficas dos estúdios Walt Disney estão presentes no imaginário e no cotidiano da maioria das meninas e carregam em si uma série de particulares significados. Segundo a antropóloga, é necessário mostrar a elas outros referenciais de mundo e do que é ser mulher.


A pesquisa Girando entre Princesas: performances e contornos de gênero em uma etnografia com crianças foi fundamentada nas teorias de gênero, difundidas a partir dos anos 1970. “Segundo as teorias de gênero, os referenciais de masculinidade e feminilidade não são pautados pela natureza, mas apreendidos segundo os modos de socialização a que nos submetemos. Diferentemente do sexo, enquanto um referencial anatômico de macho e fêmea, os gêneros masculino e feminino resultam de uma construção  social, e variam de acordo com cada cultura”, afirma Michele.

Durante o acompanhamento do cotidiano das crianças de diferentes classes sociais, que durou um ano,  Michele percebeu que as princesas da Disney eram operadas como um referencial para demarcar o gênero: “Uma brincadeira era de menina quando de alguma maneira as crianças resolviam brincar de princesas. As meninas não tinham necessariamente que reproduzir as ações das personagens nas brincadeiras, mas apenas a citação das princesas, ou a utilização de algum produto  relacionado a elas enquanto brincavam já demarcava a participação exclusiva de meninas naquela atividade.”


Casamento: uma necessidade?
Além de acompanhar as brincadeiras, Michele exibiu nas escolas os filmes “Cinderela” e “Mulan”, com o objetivo de mapear como as crianças compreendiam as narrativas dos filmes com princesas da Disney. A escolha foi feita porque tratam-se de duas personagens “Disney Princesas”conceitualmente diferentes. Enquanto Cinderela é a princesa ‘clássica’, passiva, sempre à espera de outras pessoas para resolver os seus problemas, Mulan, segundo a própria descrição no site da Disney, é uma princesa rebelde, que a partir de suas ações, desencadeia os acontecimentos na história.”

Após as exibições, a antropóloga solicitou que as crianças retratassem, em desenhos comentados, a cena mais relevante de cada um dos filmes. Entre os muitos elementos captados, alguns chamavam a atenção, como a necessidade de vínculo conjugal da princesa com um príncipe, ou ainda o padrão estético, de beleza e comportamento.

De acordo Michele, o estatus de princesa não foi facilmente atribuído pelas crianças à Mulan, em contraposição à Cinderela. Muitas crianças resistiram em considerar Mulan uma princesa e os argumentos, principalmente, se pautavam em dois motivos: Primeiro, por a personagem não apresentar o padrão estético, de beleza e comportamento, da maioria das outras princesas. Em segundo lugar, e mais importante, pelo final do filme não deixar claro se Mulan se casou ou não. Segundo Michele, indagada sobre o porquê Mulan não seria uma princesa, uma das crianças respondeu: “Tia, para ser princesa precisa casar, né? Senão não vai ser princesa, vai ser solteira!”


Marca registrada
Criada no início dos anos 2000, a marca registrada “Disney Princesas” reúne os direitos de reprodução das imagens de algumas personagens presentes nas produções cinematográficas da Walt Disney Company, nos mais variados tipos de produtos, de mochilas e cadernos até jogos de videogame. A franquia nasceu com a ideia de potencializar os lucros da empresa, principalmente por intermédio do jovem público consumidor feminino.

A marca conta hoje com dez personagens: Branca de Neve, do filme A Branca de Neve e os Sete Anões (1937); Cinderela, de Cinderela (1950); Aurora, de A Bela Adormecida (1959); Ariel, de A Pequena Sereia (1989); Bela, de A Bela e a Fera (1991); Jasmine, de Alladin (1992); Pocahontas, de Pocahontas (1995); Mulan, de Mulan (1998); Tiana, de A Princesa e o Sapo (2009); e Rapunzel, de Enrolados (2010).

Michele ressalta a importância de nos atentarmos ao padrão que determina a presença ou não de uma personagem no seleto grupo da marca. Ao analisar a narrativa dos dois filmes selecionados, o ponto em comum percebido entre as ‘Disney Princesas’ é o sucesso no amor conjugal. A imagem das princesas é totalmente dependente do príncipe, e apesar das grandes diferenças nas narrativas, a realização de si enquanto um exemplo de feminilidade só é completa após o casamento ou a sua sugestão.”

Segundo o estudo, a marca é, hoje, a principal responsável pela divulgação das princesas da Walt Disney. As crianças conhecem antes as princesas pelos produtos em que estão estampadas, do que pelos filmes que contam a sua história. Para a antropóloga, a pesquisa demonstra como o consumo destes determinados produtos também exerce o papel de demarcar as diferenças de gênero entre as crianças.


Novos horizontes
Mais do que marginalizar completamente as personagens das princesas, Michele acredita que é preciso garantir que as crianças tenham acesso também a outros tipos de referenciais de feminilidades. Filmes, músicas, roupas e tantos outros produtos entregues às crianças, não podem ser a única fonte de informação sobre o que é ser mulher.

“As princesas da Disney carregam consigo um conteúdo que acaba funcionando como uma restrição a ideia do que é ser humano, enquanto mulher. É necessário garantir que a formação das crianças tenha também outros tipos de referenciais. A diversidade existe, e as crianças devem saber que não há apenas uma maneira de serem felizes, bonitas e aceitas.”, conclui a antropóloga.



 FONTE: http://www.usp.br/agen/?p=127120&fb_action_ids=479028825498184&fb_action_types=og.recommends&fb_source=aggregation&fb_aggregation_id=288381481237582

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Criança que fala errado: até que ponto é normal?

Ouvir crianças trocando as letras geralmente é motivo de descontração para quem está por perto, porque acham “bonitinho”. Fonoaudióloga orienta sobre como os pais devem agir.

Diversas crianças falam de um modo bastante peculiar, seja trocando letras e palavras ou usando termos diferentes. Em alguns casos, quem ouve acha “bonitinho”, “engraçadinho”. Para saber o limite entre a normalidade e os indícios de que a criança pode ter algum problema na fala, a fonoaudióloga Cristiane Romano, especialista em Voz, explica.

A profissional ressalta que a criança está em uma fase de experimentação, de descobertas; e por isso, nem sempre a fala deve ser motivo de preocupação. Em caso de dúvida, inclusive sobre a época adequada para falar, deve-se procurar um fonoaudiólogo. Ela explica que existe um quadro de fonemas que permite ao profissional saber se o modo como a criança fala condiz com o que é considerado aceitável para sua idade.

“Alguns sons são mais fáceis de serem pronunciados, como o /p/ de papai, ou /m/ de mamãe, por isso que a criança costuma falar primeiro ‘papa’, ‘papai’. Por outro lado, o fonema /r/ da palavra ‘parede’, por exemplo, já é mais difícil, devido ser um fonema que exige vibração da língua. Com 6 meses, a criança já deve começar a produzir os primeiros sons (papa, mama, ba); e a partir de 1 ano, já inicia a formar pequenas frases, mesmo que errado. Quando a criança tiver 3 anos, já não é aceitável que troque sons, um exemplo seria a troca do /t/ pelo /k/ (tachorro), ou trocar também o som do /j/ com /z/ (zanela) “.

Com o tempo passa?
A fonoaudióloga afirma que não, e ressalta as conseqüências:

Alguns pais, por falta de orientação ou informação, costumam ter esperança de que determinados problemas na fala passem com o tempo, mas isso pode trazer consequências, prejudicando a criança por toda a vida. “Se aos 3 anos a criança ainda troca letras, é ideal que já busque ajuda profissional para fazer uma avaliação”, alerta.

Cristiane Romano também ressalta a importância de se buscar tratamento antes que a criança entre para a escola ou creche. “A busca por tratamento antes de iniciar o processo de alfabetização é de grande importância, porque a criança pode apoiar sua fala errada na escrita, e também apresentar consequências, como se tornar agressiva por não ser compreendida pelas outras crianças e até mesmo pelo professor, e/ou até mesmo se calar, retraindo por medo de ser motivo de ‘piadinhas’, e isso pode gerar traumas”.

Como corrigir a criança? Sutileza é a resposta.

De acordo com a fonoaudióloga, todo cuidado é pouco no momento de corrigir a criança que fala errado. “Nunca se deve repreender diretamente, o ideal é sempre dar o modelo correto em vez de corrigir, sem que ela perceba que está sendo corrigida”.

Cristiane comenta sobre os riscos do uso da fala infantilizada em excesso: “Não adianta cobrar da criança que ela fale certo, se a família conversa com fala infantilizada excessivamente”.

Períodos de tratamento
A fonoaudióloga enfatiza a responsabilidade dos pais nesse processo. “Deve ser averiguado quando a criança é quieta demais, quando ela não se expressa. Uma criança com 1 ano de idade já é comunicativa; se aos 2 anos ela não falar, busque ajuda, faça uma avaliação para diagnosticar se ela necessita entrar ou não em tratamento”. A duração do tratamento varia de acordo com a alteração de fala, em média, seis meses.

“Incentive a criança a falar, realizando atividades de estimulação, e evite o uso de muitos brinquedos. Use um brinquedo de cada vez (pegue a bola, vamos brincar com a bola, sempre repetindo o nome do brinquedo). Evite deixar a criança muito tempo assistindo filmes, na esperança de que ela desenvolva a fala. A televisão pode ajudar, porém, a criança precisa de interação e diálogo com os pais”, conclu
i.




Fonte:http://www.jornalcco.com.br/noticia/812/Crianca-que-fala-errado--ate-que-ponto-e-normal-

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A droga da obediência: uso de remédios para focar a atenção


Em alguns casos psicopedagógicos que já acompanhei, houve dúvidas sobre o diagnóstico médico que as crianças tinham e, consequentemente, seu tratamento. A administração de remédios para esses pacientes são questionáveis, pois nem sempre a criança apresenta traços que indicam alguma patologia ou distúrbio de aprendizagem. Na maioria da vezes, trata-se de alguma questão psicológica, familiar ou social, que impede estes indivíduos de aprenderem. E, de repente, estão sendo diagnosticados e rotulados por problemas que, quiçá, nem possuem.


A pediatra Maria Aparecida Moysés questiona o uso de remédios para focar a atenção. Ela alerta: o efeito de acalmar é sinal de toxicidade.
O Brasil é o segundo maior consumidor mundial dos psicotrópicos chamados metilfenidatos, prescritos para o tratamento de crianças diagnosticadas como portadoras do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Atrás apenas dos Estados Unidos, consumimos, em 2009, 2 milhões de caixas, ante as 70 mil consumidas em 2000. A droga, usada para tratar do que é considerado um distúrbio neurobiológico, é consumida, entre outros, por crianças e adolescentes desatentos, agitados e com dificuldades escolares. Apelidado de a “droga da obediência”, por acalmar e focar a atenção, o medicamento leva os sugestivos nomes de Concerta e Ritalina (produzidos pelos laboratórios Janssen Cilag e Novartis, respectivamente). Seu uso, no entanto, provoca acaloradas discussões.

A pediatra Maria Aparecida Affonso Moysés, da Unicamp, é uma das vozes médicas a questionar a existência de “uma doença neurológica que só altere comportamento e aprendizagem”. Nessa entrevista, ela explica as reações adversas da droga e afirma que os critérios para diagnosticar o TDAH são normas sociais. Vejam esta entrevista realizada pela Carta Fundamental, em fevereiro de 2011.

Carta Fundamental: O consumo de metilfenidatos no Brasil foi de 70 mil, em 2000, para 2 milhões de caixas, em 2009. A que a senhora atribui esse aumento?

Maria Aparecida Affonso Moysés: Outro dado é que o Brasil só perde para os Estados Unidos no consumo dessa droga, o que é assustador, porque este não é um medicamento seguro. O metilfenidato tem várias reações adversas. E veja só: não são efeitos colaterais, são reações adversas e indicam a retirada imediata da droga.
CF: Que tipo de reação? 

MAAM: No sistema nervoso causa insônia, cefaleia, alucinações, psicose, suicídio e o principal efeito chamado de Zumbi Like. Significa agir como um zumbi, ou seja, a pessoa fica quimicamente contida em si mesma. Todos esses são sinais de toxicidade e indicam a retirada imediata da droga. No sistema cardiovascular o remédio causa arritmia, taquicardia, hipertensão, parada cardíaca. O risco de morte súbita inexplicada em adolescente é estimado em 10 a 14 vezes maior entre aqueles que tomam o remédio, segundo uma pesquisa de 2009 da Food and Drugs Administration (FDA) e de National Institute of Mental Health (NIMH). Não é desprezível. Além disso, interfere no sistema endócrino, na secreção dos hormônios de crescimento e dos sexuais. É uma substância com o mesmo mecanismo de ação e as mesmas reações adversas da cocaína e das anfetaminas.
CF: O metilfenidato é um estimulante usado para acalmar?

MAAM: Ele acalma pelo efeito zumbi, uma toxicidade. Uma coisa que não se pensa muito é o seguinte: o metilfenidato foca a atenção em quê? É aleatório. Ao conter as atividades cerebrais de tal modo que você não se distraia, esta única coisa em foco é eleita ao acaso. É o que passa pela frente. Não é uma substância que te faz focar no estudo. Não existe isso.
CF: O Brasil perde apenas para os EUA no consumo de metilfenidatos. O que aproxima as sociedades médicas desses países?

MAAM: A sociedade médica brasileira, há 50 anos, era voltada para a França. Hoje é voltada para os EUA. É quase mundial isso, mas na Europa ainda há uma resistência. Somos muito dependentes da tecnologia e da cultura americana, que impõe essa padronização e normalização das pessoas. A gente constrói uma sociedade que quer uma criança cada vez mais ativa e ligada no mundo. Crianças com 4 anos mexem no computador com várias janelas abertas ao mesmo tempo. Quando elas chegam na escola, queremos que elas façam uma coisa só e não questionem. Queremos crianças criativas, ótimas e submissas! Elas questionam, querem saber o porquê. O “não” não basta mais. E os adultos não aguentam isso. A sociedade é muito incomodada com os questionamentos e a gente acaba abafando isso via substância química. Junte isso ao interesse financeiro das indústrias farmacêuticas. Elas financiam cursos, viagens para médicos, vantagens em clínicas. Curso para professores financiado por um laboratório é algo estranho. Não sejamos ingênuos: eles estão, na verdade, treinando professores para identificar futuros clientes consumidores de suas drogas. E esse é um peso muito forte, que consta, inclusive, em relatório do departamento de justiça dos EUA, mostrando como a Ciba-Geigy (Laboratório que viria, a partir de 1996, a formar a Novartis) – financiava entidades de familiares e profissionais ligados à defesa das pessoas com TDAH.
CF: Quais os efeitos desses psicotrópicos quando tomados por longo período?

MAAM: Isso consta em qualquer livro de farmacologia. Vários trabalhos mostram que existe um risco de dependência química muito grande, além de uma dependência psíquica, porque a pessoa se sente mais ativa mesmo. E tem várias pesquisas mostrando que, quando a criança começa a tomar aos 4 anos e retiram o remédio aos 18, existe uma tendência muito grande de drogadição por substância mais pesadas. Se a criança está usando um estimulante desde os 5, 6 anos, ela vai buscar outra droga quando interrompe este uso. No mundo todo, clínicas relatam que metade dos adolescentes conta que começaram a drogadição e a mantém com ritalina. E a fala desses adolescentes é que eles começaram a usar porque é barato, acessível, fácil de comprar, embora tenha receita controlada. Segundo eles, os médicos diziam que era seguro. Como dizem até hoje. Mas não é uma droga segura.
CF: A discordância não é só quanto ao uso ou não da medicação, mas quanto à existência do próprio transtorno.

MAAM: A discordância básica é que não existe uma comprovação aceita de que haja uma doença neurológica que só altere comportamento e aprendizagem. Isso ainda não foi provado. A lógica da medicina é comprovar a doença e depois tratar. Para essa, o remédio foi encontrado antes.
CF: A comprovação seria se encaixar nos critérios do questionário Snap-IV.

MAAM: Aqueles critérios são altamente questionáveis. Aquilo não é critério de doença, é norma social. Como posso transformar uma norma social em biológica? O Snap-IV contém 18 perguntas, e as primeiras nove falam de atenção, e as outras, de hiperatividade. Se você preencher seis das perguntas, tem o diagnóstico de déficit de atenção, hiperatividade ou dos dois. Todas as questões falam de comportamento. Só com base nisso afirmam a presença de uma doença neurológica?
CF: A partir de que idade uma criança pode ser diagnosticada?

MAAM: Há relatos na medicina americana de crianças de 2 anos que teriam dislexia quando entrassem na escola. Como identificar que alguém vai ter dificuldades de ler e escrever aos 2 anos?
CF: Quem defende o uso da medicação argumenta que apenas seu uso incorreto não é seguro e que a criança que não é diagnosticada sofre.

MAAM: Sofre por causa da sociedade. Eu quero trabalhar o conflito que ela está vivendo e libertá-la desse conflito e de uma doença que ela não tem. É preciso entender isso até para poder superar e enfrentar. Agora, quando digo você é doente vou te dar um remédio, os pais ficam aliviados porque, enfim, encontram o problema e podem tratar o filho. Esse é o sonho de todo pai. Mas eles estão iludidos porque essa criança, na verdade, não está sendo tratada. Ela está introjetando ser doente, ter algum problema e tudo o que ela conseguir na vida vai ser porque foi tratada. É totalmente desconsiderada em que situação isso é produzido. Porque os problemas de aprendizagem são todos produzidos.
CF: O rendimento na escola das crianças medicadas melhora.

MAAM: É preciso provar que foi a droga porque se inicia um trabalho pedagógico com a criança, afirma-se que ela está doente, que está sendo tratada, a professora vai ensinar de um modo diferente, ela vai acreditar que pode aprender. A revisão dos trabalhos publicados que preenchem todos os requisitos de pesquisa científica mostra que não há melhora consistente do desempenho acadêmico. Esta é, inclusive, a conclusão de uma reunião feita nos EUA para estabelecer consensos para o diagnóstico e tratamento.
http://www.cartacapital.com.br/carta-fundamental/a-droga-da-obediencia

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Conselhos Tutelares: aliados dos direitos da infância

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), implementado há duas décadas no Brasil, reconhece os direitos da infância e também deve assegurar a criação de órgãos complementares que visam garantir o cumprimento de suas diretrizes. É nesse cenário que surgem os Conselhos Tutelares. Mas, o que é o Conselho Tutelar, qual a sua função e, principalmente, qual a sua importância na garantia dos direitos de crianças e adolescentes?
Integrante do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGD), o Conselho Tutelar é um órgão público municipal que tem como missão representar a sociedade na proteção e na garantia dos direitos de crianças e adolescentes, contra qualquer ação ou omissão do Estado ou dos responsáveis legais, que resulte na violação ou ameaça de violação dos direitos estabelecidos pelo ECA.
De acordo com o ECA, o Conselho Tutelar é um órgão permanente, autônomo e não jurisdicional. Isso quer dizer que após ser criado, o Conselho Tutelar não pode ser extinto. Embora não tenha poder para fazer cumprir determinações legais ou punir quem as infrinja, o Conselho Tutelar tem independência no exercício de suas atribuições, que vão desde o aconselhamento de pais, responsáveis e professores, até a requisição de serviços públicos e o encaminhamento ao Ministério Público de qualquer notícia de infração contra os direitos da criança e do adolescente, tais como violências física, psicológica e sexual, negligência e abandono.
No entanto, mais do que receber denúncias e aguardar seu encaminhamento, o Conselho Tutelar zela pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente uma vez que fiscaliza e toma providências diante da simples ameaça a esses direitos.
De acordo com o ECA, cada município deverá ter, no mínimo, um Conselho Tutelar que contará com cinco conselheiros tutelares eleitos pela comunidade para um mandato de três anos, que não poderão ser prorrogados. O processo de escolha é realizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA). Os candidatos devem ter idoneidade moral, ter mais de 21 anos e residir no município.
As deliberações do Conselho Tutelar são provenientes de manifestação da maioria ou da unanimidade de seus membros, uma vez que ele é um órgão colegiado.
Assim, a implementação de Conselhos Tutelares em todos os municípios brasileiros é uma contribuição para que as diretrizes de proteção aos direitos de crianças e de adolescentes saiam do texto da lei e se tornem realidade.
De acordo com uma pesquisa da ANDI – Comunicação e Direitos, existiam 5.772 Conselhos Tutelares no Brasil em 2010. Entretanto, a falta de estrutura dos órgãos tem prejudicado gravemente o atendimento prestado a crianças e a adolescentes.
Somente com o apoio de cada município em disponibilizar os recursos necessários para a implantação, manutenção e custeio das atividades, inclusive no que diz respeito à formação continuada dos conselheiros tutelares, será possível que esse órgão tenha condições de cumprir plenamente sua missão.
Leis e princípios que regem o Conselho Tutelar:
  • Constituição da República;
  • Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (Decreto n° 99.710/1990);
  • Lei n° 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), com as alterações produzidas pela Lei nº 12.696/2012;
  • Lei Municipal que dispõe sobre a criação e funcionamento do Conselho Tutelar;
  • Resolução Conanda n° 139/2010, que estabelece os parâmetros para a criação e funcionamento dos Conselhos Tutelares no Brasil.