quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Alfabetizar abolindo a letra cursiva?


Em uma das minhas aulas do curso de Psicopegadodia, uma das alunas - coordenadora de uma escola de alto padrão - nos trouxe um caso polêmico para o grupo. 
Ela nos contou sobre uma criança, que havia sido alfabetizada em outro país. A mãe era brasileira, por isso o garotinho aprendeu a Língua Portuguesa desde seus primeiros anos, tendo uma educação bilíngue com o auxílio dos próprios pais. 

No país de origem do garoto, as crianças não aprendem a escrever com letra cursiva, apenas letra inpressa. A família se mudou para o Brasil, e o garoto começou a frequentar a escola desta coordenadora. Logo se instalou um conflito, pois os professores e a equipe pedagógica rejeitava a letra de imprensa do garoto e estavam forçando-o cada vez mais a fazer apenas a letra cursiva.

Concidentemente ou não, o aluno que tinha notas exemplares, inclusive na disciplina Linguagem oral e escrita, começou a apresentar falta de interese na escola, e suas notas despencaram em produção escrita. E isso foi afetando as outras disciplinas também, como efeito dominó.

A coordenadora, que trouxe o caso para a aula, sempre brigou com a equipe escolar para deixar que o aluno permanecesse com sua letra de imprensa, afinal, até em nossa escrita há registro de nossa própria identidade - aliás, esse era o assunto da aula no curso. E o garoto, desde sempre, aprendeu a escrever com aquela letra. Consequentemente, nela já estava instalada sua história, seus traços, sua identidade. Mas a equipe escolar batia de frente e dizia que não, que ele deveria escrever apenas com letra cursiva, pois no Brasil, convencionou-se desta maneira.

Fala-se tanto em respeitar a indivualidade da criança, sua realidade, sua bagagem cultural e, quando vemos, escolas de alto padrão, que dizem ter qualidade em excelência, nos apresenta casos como este: algo tão pequeno, destruindo o interesse e a vontade de aprender de um aluno, apenas por causa do formato de uma letra.

Pergunto a vocês: Será que isso é mesmo essencial???

Falando neste assunto, trago para vocês uma matéria muito interessante, que fala exatamente sobre isso! Reflitam... o Espaço Educare está aberto à opinião de vocês: comentem!
Saboreiem a reportagem!
Abs

FLÁVIA



Letras em linhas tortas

 Nos EUA, disseram que os americanos vão escrever de modo “infantil”. No Brasil, chamaram educadores às ruas caso tal medida chegasse ao País. Tudo porque o estado de Indiana tornou opcional o ensino de letra cursiva. Nos próximos anos, ela deve ser banida em definitivo, algo que pode ser seguido por outros 40 estados.


Defensores da proposta argumentam que as comunicações por celulares e computadores tornaram quase desnecessário escrever com papel e caneta. Mas críticos veem nisso algo como um assassínio cultural em massa. Um exagero como a polêmica que envolveu o livro Por uma Vida Melhor, de Claudio Bazzoni, acusado de ensinar a “falar errado”, avalia Luiz Carlos Cagliari, professor da Unesp de Araraquara.


Isabel Frade, professora da Faculdade de Educação e pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da UFMG, diagnostica uma falta de análise mais aprofundada do que é relevante na cultura escrita. “Não podemos defender o ensino só por tradição, mas, sim, pensar se existe uma prática social em que ele se sustenta.”


Para ambos, a letra cursiva não é um fator essencial para a alfabetização. Cagliari, porém, é categórico ao determinar que ela não deve ser ensinada até que o aluno saiba ler. “A escrita da escola, além de ser cursiva, é manuscrita e concatenada. E, por ser concatenada, achamos problemas específicos na alfabetização.” Isso porque diferenciar os caracteres de uma palavra “na letra da professora” pode ser mais complicado para quem está sendo alfabetizado.




Frade avalia que mais importante que o formato é a legibilidade. Mas pondera: “Se pararmos de ensinar letra cursiva, os alunos vão dar conta de textos de gerações anteriores?”


A despeito das diferenças socioeconômicas e culturais que separam as escolas brasileiras das americanas, Cagliari diz não ver problemas no uso de computadores na alfabetização caso o modelo venha a ser adotado no País- algum dia. Todavia, a antecipação de uma possível escola toda digitalizada não é, para Frade, justificativa. “Não se pode pensar  em rompimento histórico nas práticas de escrita. O que varia são os elementos usados para escrever: barro, terra, instrumentos -objetos, pena de ganso, caneta etc.”


O que ficaria de fora, nessa hipótese, seria o lado artístico. “A caligrafia tem importância artística, mas a aula de artes terá de dar conta disso”, diz Cagliari, que aconselha: “O melhor é entender a situação. Ser prudente e não covarde. Queremos viver no mundo dos nossos filhos, não no dos nossos avós”.






FONTE: http://www.cartacapital.com.br/carta-fundamental/letras-em-linhas-tortas/