domingo, 25 de março de 2012

Discalculia : você sabe o que é?


Nunca fui uma das melhores alunas em tudo o que dizia respeito a cálculos, raciocínio lógico... ou seja, em Matemática. Odiava aquelas situações-problema em que o Joãozinho dividia as figurinhas com Pedro ou a Mariazinha que comia algumas maçãs e tínhamos que saber com quantos ela tinha ficado... Ora, o próprio nome já dizia: o PROBLEMA era deles (rs).
Quantas vezes minha mãe perdeu a paciência em me fazer "decorar a tabuada", quantas vezes pedi para meus amigos me ajudarem nos trabalhos de Estatística da faculdade, quantas aulinhas particulares tiveram que ser feitas para me salvarem da recuperação do Ensino Médio. Nunca tive vocação para exatas - ao contrário da área de humanas, que sempre foi a "minha praia".

Pois é, assim como eu, milhares de pessoas também não se dão tão bem com a matemática, pois sempre tiveram dificuldades em aprender e compreender esta disciplina. Ou seja, temos ou tivemos DIFICULDADES.

Dificuldade de aprendizagem é diferente de Transtorno de aprendizagem.
A primeira é uma situação temporária, em que o indivíduo passa por ela em algum momento da vida mas que, com o devido trabalho, é superada. Já o segundo, é uma questão de ordem biológica e genética, em que o indivíduo apresenta alguma lesão, deficiência, distúrbio genético que afeta uma parte do cérebro que o impede de realizar certas tarefas.
A discalculia é muito mais do que uma dificuldade aprendizagem: é um transtorno de aprendizagem. É um problema de origem genética e uma dificuldade inerente ao indivíduo. As causas estão relacionadas com um mecanismo genético multifatorial, interagindo com fatores ambientais que desencadeiam o quadro. A discalculia é um quadro grave, que causa dificuldades nos aspectos mais básicos, como contar, conhecer tabuada, resolver -problemas aritméticos simples, noção de quantidade da grandeza das coisas.
São três os fatores cognitivos mais importantes para a Matemática:
*o senso numérico : por exemplo, olhar para um estádio de futebol e estimar que ali há umas 60 mil pessoas, o famoso "olhômetro". Pessoas com discalculia, possuem dificuldade nesse senso numérico
*as habilidades fonológicas: outras habilidades importantes são as de linguagem, algo comprometido na dislexia. Muitas crianças com dislexia também têm dificuldades com a Matemática, justamente por não conseguir lidar bem com estruturas sonoras das palavras.
*memória de trabalho: quando realizamos uma operação, precisamos manter os produtos e os resultados intermediários na mente para fazer essas operações.
Apenas 30% das crianças com discalculia têm uma discalculia pura. Dois terços delas têm discalculia associada – com a dislexia, com dificuldades na leitura, com TDH, ou com dificuldades de concentração. As crianças com discalculia pura são aqueles com a forma mais grave da doença. São justamente essas crianças que têm dificuldade com a noção de grandeza e de quantidade. É uma coisa muito mais incapacitante, porque na vida prática é preciso estimar o tempo que você vai levar para tomar banho, para ir de um lugar a outro, a quantidade de comida usada para fazer uma refeição…
A frequência é mais ou menos a mesma da dislexia, em torno de 5% a 6% da população. A questão é que as pessoas, socialmente, acham que a Matemática é difícil e que é natural ter dificuldade.
O pesquisador da UFMG Vitor Haase organiza primeira grande pesquisa sobre discalculia no Brasil e orienta:

"Se o professor acha que a criança tem uma dificuldade que é mais grave, deve encaminhá-la para uma avaliação neuropsicológica. Uma coisa importante é – quando há uma criança com desempenho considerado insatisfatório – constatar se ela tem uma dificuldade de aprendizagem mesmo ou se o problema é de “ensinagem”. Ou seja, se o currículo, ou mesmo a atitude do professor, não está sendo a mais favorável, no sentido de promover a aprendizagem daquela criança."


E é aí que entra o trabalho do psicopedagogo!!!!
Segundo o pesquisador, a questão do tratamento é o das intervenções psicopedagógicas. Existe um componente motivacional importante que há de de trabalhar com a família e com a professora. Eles geralmente têm atitudes negativas com a criança. Acham que ela é lerda, burra, malcomportada e tem pouca expectativa. Com a criança também é preciso trabalhar o aspecto motivacional, porque a dificuldade crônica de aprendizagem é extremamente desmotivante. Uma das estratégias usadas é a aprendizagem sem erro, que consiste em programar o currículo de maneira tal que a criança consiga dar conta de resolver o problema com pequeno esforço. Nesse aspecto motivacional, se trabalha também com técnicas de autoinstrução – ensinar a criança a ter uma atitude mais reflexiva, de monitorar seu comportamento ao resolver problemas, de checar, de ver se a solução atingida foi a correta ou não.


 O que essa criança é capaz ou não de fazer? Trata-se de uma dificuldade ou um possível transtorno? Devo rotular esta criança antes de ouvir a opinião de outro profissional?
A docência reflexiva e crítica é um aspecto importante que o educador deve levar para sempre em seu trabalho. A criança não aprende por que não é capaz, ou por que minha aula não oportuniza a aprendizagem, das mais diversas formas que alcance cada um, em sua individualidade? Respeito as diferentes formas de aprender? Ofereço isso às crianças?


No dia-a-dia, temos pressa em cumprir o planejamento e o currículo, e muitas vezes ignoramos esta reflexão, pelo simples fato de não "termos tempo". No entanto, não podemos deixar passar algumas coisas que são fundamentais para o aprendizado de nossas crianças. Lá na frente, pode trazer baixa autoestima e resultados desastrosos ao indivíduo.


O olhar atento à criança e observá-la na resolução de situações-problema em sala de aula e na vida, são fatores fundamentais para que se oriente de forma mais saitisfatória às suas dificuldades.