O governo de São Paulo apresentou ontem seu projeto para aumentar para
50% a presença de estudantes de escolas públicas nos cursos das
universidades paulistas (USP, Unicamp e Unesp).
A proposta não prevê reserva direta de vagas. O aluno só será
beneficiado se demonstrar alto desempenho acadêmico, ainda que haja
risco de que o posto não seja ocupado por um egresso da rede pública de
ensino.
O modelo é diferente do adotado nas universidades federais, onde 50% das
vagas da graduação serão garantidas a alunos da rede pública -mesmo que
as notas deles na seleção sejam mais baixas.
Na proposta desenhada pelos reitores paulistas, os 50% aparecem como uma
meta, a ser atingida até 2016 e que pode deixar de ser cumprida caso as
políticas de auxílio não tenham o efeito esperado.
A expectativa é que 35% dos beneficiados sejam pretos, pardos e indígenas.
AÇÕES
Para atingir a meta de 50%, o projeto prevê duas ações.
A primeira é a criação de curso preparatório semipresencial, de dois
anos, oferecido a alunos selecionados pelo Enem ou pelo Saresp.
Ao final do curso, chamado de "college", o aluno com o equivalente a
nota 7 receberá um diploma superior. Quem quiser seguir os estudos
poderá entrar nos cursos de graduação, sem vestibular.
Além disso, será dada uma bolsa mensal de R$ 311 aos alunos de baixa renda participantes desse curso.
O "college" terá 2.000 vagas (sendo mil para pretos, pardos e
indígenas). Caso todos os alunos se formem e queiram entrar nas
universidades, eles representarão cerca de 40% da meta para 2016.
Os outros 60% deverão ser preenchidos com política de atração de bons
alunos da rede pública, cujas ações não estão definidas. Algumas
estratégias existentes, como bônus nos vestibulares a esses estudantes,
serão mantidas.
A proposta foi elaborada pelos reitores a pedido do governador Geraldo
Alckmin (PSDB), que está pressionado pela política federal de inclusão
no ensino superior.
A ideia é reduzir a distorção do sistema educacional: enquanto mais de
80% dos alunos do ensino médio estudam na rede pública, eles são minoria
nessas universidades.
A proposta terá de ser aprovada pelos Conselhos Universitários. A previsão é implantar as regras em 2014.
Professor da USP critica curso semipresencial para cotistas
Ex-membro do Conselho Nacional de Educação, o professor titular de metodologia de ensino da USP, Nélio Bizzo, critica o curso de dois anos ser feito de maneira semipresencial e afirma que a definição de escola pública para cotas tem de ser revista. Acompanhe a entrevista que ele forneceu à Folha de São Paulo!!!
Folha - Qual o problema com cotas para escola pública?
Nélio Bizzo - Sou a favor das cotas, mas, quando falamos em
escola pública, pensamos que todas são de periferia. Existem escolas
públicas de elite que têm vestibulinhos concorridos, que não deixam de
fazer uma triagem socioeconômica dos alunos.
Como isso poderia ser ajustado?
Deve-se focar as escolas públicas que sejam frequentadas por quem se
procura favorecer. É importante discutir o perfil do aluno que quer
favorecer, e não o tipo de escola que frequenta.
Por que o sr. não aprova o curso inicial de dois anos para alunos cotistas?
Partimos de um ponto que acho válido --os alunos chegarão com um preparo
inferior. Mas o fato de o curso ser semipresencial é ruim. O aluno, que
deveria ter uma atenção redobrada, não vai ter. Esse curso deveria
focar mais a preparação do estudante. Dessa forma, isso não acontece.