segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Princesas da Disney moldam feminilidade em crianças

“As princesas da Disney carregam consigo um conteúdo que acaba funcionando como uma restrição a ideia do que é ser humano, enquanto mulher. É necessário garantir que a formação das crianças tenha também outros tipos de referenciais. A diversidade existe, e as crianças devem saber que não há apenas uma maneira de serem felizes, bonitas e aceitas.”


No Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, a antropóloga Michele Escoura estudou de que maneira as imagens de princesas de contos de fadas servem como um referencial de gênero e exemplo de feminilidade. A pesquisa foi realizada com aproximadamente duzentas crianças de cinco anos de três escolas, públicas e particulares,  do interior de São Paulo — duas em Jundiaí e uma em Marília. Por intermédio de observações participantes, Michele avaliou a influência exercida nas crianças pela marca registrada “Disney Princesas”. As imagens das personagens das produções cinematográficas dos estúdios Walt Disney estão presentes no imaginário e no cotidiano da maioria das meninas e carregam em si uma série de particulares significados. Segundo a antropóloga, é necessário mostrar a elas outros referenciais de mundo e do que é ser mulher.


A pesquisa Girando entre Princesas: performances e contornos de gênero em uma etnografia com crianças foi fundamentada nas teorias de gênero, difundidas a partir dos anos 1970. “Segundo as teorias de gênero, os referenciais de masculinidade e feminilidade não são pautados pela natureza, mas apreendidos segundo os modos de socialização a que nos submetemos. Diferentemente do sexo, enquanto um referencial anatômico de macho e fêmea, os gêneros masculino e feminino resultam de uma construção  social, e variam de acordo com cada cultura”, afirma Michele.

Durante o acompanhamento do cotidiano das crianças de diferentes classes sociais, que durou um ano,  Michele percebeu que as princesas da Disney eram operadas como um referencial para demarcar o gênero: “Uma brincadeira era de menina quando de alguma maneira as crianças resolviam brincar de princesas. As meninas não tinham necessariamente que reproduzir as ações das personagens nas brincadeiras, mas apenas a citação das princesas, ou a utilização de algum produto  relacionado a elas enquanto brincavam já demarcava a participação exclusiva de meninas naquela atividade.”


Casamento: uma necessidade?
Além de acompanhar as brincadeiras, Michele exibiu nas escolas os filmes “Cinderela” e “Mulan”, com o objetivo de mapear como as crianças compreendiam as narrativas dos filmes com princesas da Disney. A escolha foi feita porque tratam-se de duas personagens “Disney Princesas”conceitualmente diferentes. Enquanto Cinderela é a princesa ‘clássica’, passiva, sempre à espera de outras pessoas para resolver os seus problemas, Mulan, segundo a própria descrição no site da Disney, é uma princesa rebelde, que a partir de suas ações, desencadeia os acontecimentos na história.”

Após as exibições, a antropóloga solicitou que as crianças retratassem, em desenhos comentados, a cena mais relevante de cada um dos filmes. Entre os muitos elementos captados, alguns chamavam a atenção, como a necessidade de vínculo conjugal da princesa com um príncipe, ou ainda o padrão estético, de beleza e comportamento.

De acordo Michele, o estatus de princesa não foi facilmente atribuído pelas crianças à Mulan, em contraposição à Cinderela. Muitas crianças resistiram em considerar Mulan uma princesa e os argumentos, principalmente, se pautavam em dois motivos: Primeiro, por a personagem não apresentar o padrão estético, de beleza e comportamento, da maioria das outras princesas. Em segundo lugar, e mais importante, pelo final do filme não deixar claro se Mulan se casou ou não. Segundo Michele, indagada sobre o porquê Mulan não seria uma princesa, uma das crianças respondeu: “Tia, para ser princesa precisa casar, né? Senão não vai ser princesa, vai ser solteira!”


Marca registrada
Criada no início dos anos 2000, a marca registrada “Disney Princesas” reúne os direitos de reprodução das imagens de algumas personagens presentes nas produções cinematográficas da Walt Disney Company, nos mais variados tipos de produtos, de mochilas e cadernos até jogos de videogame. A franquia nasceu com a ideia de potencializar os lucros da empresa, principalmente por intermédio do jovem público consumidor feminino.

A marca conta hoje com dez personagens: Branca de Neve, do filme A Branca de Neve e os Sete Anões (1937); Cinderela, de Cinderela (1950); Aurora, de A Bela Adormecida (1959); Ariel, de A Pequena Sereia (1989); Bela, de A Bela e a Fera (1991); Jasmine, de Alladin (1992); Pocahontas, de Pocahontas (1995); Mulan, de Mulan (1998); Tiana, de A Princesa e o Sapo (2009); e Rapunzel, de Enrolados (2010).

Michele ressalta a importância de nos atentarmos ao padrão que determina a presença ou não de uma personagem no seleto grupo da marca. Ao analisar a narrativa dos dois filmes selecionados, o ponto em comum percebido entre as ‘Disney Princesas’ é o sucesso no amor conjugal. A imagem das princesas é totalmente dependente do príncipe, e apesar das grandes diferenças nas narrativas, a realização de si enquanto um exemplo de feminilidade só é completa após o casamento ou a sua sugestão.”

Segundo o estudo, a marca é, hoje, a principal responsável pela divulgação das princesas da Walt Disney. As crianças conhecem antes as princesas pelos produtos em que estão estampadas, do que pelos filmes que contam a sua história. Para a antropóloga, a pesquisa demonstra como o consumo destes determinados produtos também exerce o papel de demarcar as diferenças de gênero entre as crianças.


Novos horizontes
Mais do que marginalizar completamente as personagens das princesas, Michele acredita que é preciso garantir que as crianças tenham acesso também a outros tipos de referenciais de feminilidades. Filmes, músicas, roupas e tantos outros produtos entregues às crianças, não podem ser a única fonte de informação sobre o que é ser mulher.

“As princesas da Disney carregam consigo um conteúdo que acaba funcionando como uma restrição a ideia do que é ser humano, enquanto mulher. É necessário garantir que a formação das crianças tenha também outros tipos de referenciais. A diversidade existe, e as crianças devem saber que não há apenas uma maneira de serem felizes, bonitas e aceitas.”, conclui a antropóloga.



 FONTE: http://www.usp.br/agen/?p=127120&fb_action_ids=479028825498184&fb_action_types=og.recommends&fb_source=aggregation&fb_aggregation_id=288381481237582

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Criança que fala errado: até que ponto é normal?

Ouvir crianças trocando as letras geralmente é motivo de descontração para quem está por perto, porque acham “bonitinho”. Fonoaudióloga orienta sobre como os pais devem agir.

Diversas crianças falam de um modo bastante peculiar, seja trocando letras e palavras ou usando termos diferentes. Em alguns casos, quem ouve acha “bonitinho”, “engraçadinho”. Para saber o limite entre a normalidade e os indícios de que a criança pode ter algum problema na fala, a fonoaudióloga Cristiane Romano, especialista em Voz, explica.

A profissional ressalta que a criança está em uma fase de experimentação, de descobertas; e por isso, nem sempre a fala deve ser motivo de preocupação. Em caso de dúvida, inclusive sobre a época adequada para falar, deve-se procurar um fonoaudiólogo. Ela explica que existe um quadro de fonemas que permite ao profissional saber se o modo como a criança fala condiz com o que é considerado aceitável para sua idade.

“Alguns sons são mais fáceis de serem pronunciados, como o /p/ de papai, ou /m/ de mamãe, por isso que a criança costuma falar primeiro ‘papa’, ‘papai’. Por outro lado, o fonema /r/ da palavra ‘parede’, por exemplo, já é mais difícil, devido ser um fonema que exige vibração da língua. Com 6 meses, a criança já deve começar a produzir os primeiros sons (papa, mama, ba); e a partir de 1 ano, já inicia a formar pequenas frases, mesmo que errado. Quando a criança tiver 3 anos, já não é aceitável que troque sons, um exemplo seria a troca do /t/ pelo /k/ (tachorro), ou trocar também o som do /j/ com /z/ (zanela) “.

Com o tempo passa?
A fonoaudióloga afirma que não, e ressalta as conseqüências:

Alguns pais, por falta de orientação ou informação, costumam ter esperança de que determinados problemas na fala passem com o tempo, mas isso pode trazer consequências, prejudicando a criança por toda a vida. “Se aos 3 anos a criança ainda troca letras, é ideal que já busque ajuda profissional para fazer uma avaliação”, alerta.

Cristiane Romano também ressalta a importância de se buscar tratamento antes que a criança entre para a escola ou creche. “A busca por tratamento antes de iniciar o processo de alfabetização é de grande importância, porque a criança pode apoiar sua fala errada na escrita, e também apresentar consequências, como se tornar agressiva por não ser compreendida pelas outras crianças e até mesmo pelo professor, e/ou até mesmo se calar, retraindo por medo de ser motivo de ‘piadinhas’, e isso pode gerar traumas”.

Como corrigir a criança? Sutileza é a resposta.

De acordo com a fonoaudióloga, todo cuidado é pouco no momento de corrigir a criança que fala errado. “Nunca se deve repreender diretamente, o ideal é sempre dar o modelo correto em vez de corrigir, sem que ela perceba que está sendo corrigida”.

Cristiane comenta sobre os riscos do uso da fala infantilizada em excesso: “Não adianta cobrar da criança que ela fale certo, se a família conversa com fala infantilizada excessivamente”.

Períodos de tratamento
A fonoaudióloga enfatiza a responsabilidade dos pais nesse processo. “Deve ser averiguado quando a criança é quieta demais, quando ela não se expressa. Uma criança com 1 ano de idade já é comunicativa; se aos 2 anos ela não falar, busque ajuda, faça uma avaliação para diagnosticar se ela necessita entrar ou não em tratamento”. A duração do tratamento varia de acordo com a alteração de fala, em média, seis meses.

“Incentive a criança a falar, realizando atividades de estimulação, e evite o uso de muitos brinquedos. Use um brinquedo de cada vez (pegue a bola, vamos brincar com a bola, sempre repetindo o nome do brinquedo). Evite deixar a criança muito tempo assistindo filmes, na esperança de que ela desenvolva a fala. A televisão pode ajudar, porém, a criança precisa de interação e diálogo com os pais”, conclu
i.




Fonte:http://www.jornalcco.com.br/noticia/812/Crianca-que-fala-errado--ate-que-ponto-e-normal-